domingo, 25 de julho de 2010

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um dia destes, um senhor importante da igreja católica portuguesa veio pedir aos políticos que dessem parte do seu ordenado, mais precisamente um quinto, aos pobres. não percebi a razão pela qual o senhor importante da igreja pediu precisamente aos políticos, mas a verdade é que eu normalmente não percebo grande parte do que diz a igreja católica, portuguesa ou não. fiquei, no entanto, com a ideia de que os pobres ficariam a ganhar se o tal senhor da igreja tivesse pedido dinheiro a outras pessoas, talvez aos empresários, pequenos, médios e grandes, que desculpam os seus pecados na missa dos domingos de manhã.

mas o que o senhor importante da igreja católica disse teve grande eco na comunicação social, especialmente nas televisões. as declarações do tal senhor repetiram-se, ouviram-se outros senhores, uns mais importantes que outros, e até o povo da rua: que sim, que pagassem os políticos, que eles, os populares, ou não têm para dar, ou dão mas não gostam que se saiba.

lá tivemos, então, a romaria do costume nas televisões. desta vez, só não entrevistaram pobres, se calhar por razões deontológicas (imaginem!), nem deram aquelas estatísticas sempre tão assustadoras. se calhar, não há estatísticas, ou as que há não agradam. é claro que os profissionais da caridade lá vieram dizer que sim, que a coisa está cada vez pior. há séculos que os ouço dizer isto - afinal de contas, eles têm uma missão para proteger.

e as televisões lá deram, nos mesmos noticiários, os saldos que este ano estão um espectáculo, as sugestões de férias e restaurantes que enchem o espaço deixado vazio pelas notícias que não há, e os centros comerciais que se enchem todos os dias e até são estudados por sociólogos.

os pobres, para o senhor importante da igreja e para os media, apenas servem para ganhar audiência. mas em doses moderadas, que ninguém gosta de ser visto com eles, os pobres.

2 comentários:

  1. o senhor da igreja começou pelos gestores e seus obscenos ordenados, mas os jornais preferiram destacar um exemplo, exemplo repito, que ele deu... porque os políticos sofrem menos com os cortes que os pobres, pobres por sinal que são acompanhados sobretudo pela igreja na caridade (a palavra obriga a conhecer a sua etimologia, para não a confundirmos com a esmola) e, já agora, pelo rendimento social de inserção. o que não desobriga políticos e gestores de também eles se sacrificarem.

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  2. miguel, sobre "os políticos" tenho a minha opinião há muito tempo (está nos arquivos) e ainda não encontrei razão para a mudar. para aquilo que aqui nos traz: os políticos deveriam era ganhar mais, e não menos. porque políticos bons (com tudo o que isso implica) são caros e só políticos bons podem melhorar a vida das pessoas, as ricas e as pobres. dito isto, acho completamente deplorável que a igreja católica entre na demagogia fácil de, ao "pedir esmola" em público, como fez, contribuir para o coro habitual do ataque "aos politicos", o qual, ao invés de resolver seja o que for, ainda vem piorar as condições objectivas do exercício da democracia.

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