domingo, 19 de outubro de 2008

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A vida de W (1)

W inventara para si o nome que lhe parecera mais adequado. Felizes os que têm a possibilidade de inventar o próprio nome. W não porque, como toda a gente apontava quando lhe perguntavam pelo signo, se sentisse de alguma forma bipolar. Se alguma multiplicação de personalidades havia nele, não se ficaria simplesmente pelo segundo número da ordenação. Não. W porque sempre acreditou que tudo pode sempre ser visto de outro lado. Que nada é verdadeiro. Que tudo é contingente. Acreditava, em suma, na relatividade das coisas. Fazia disso, aliás, instrumento de sobrevivência. W não se importava, por exemplo, que o tratassem por duplo vê, como fazem agora os miúdos da escola, mas ele habituara o ouvido, e respondia mais célere, quando o chamavam de dábliu. Era perfeito esse W. Múltiplo e, afinal, único. Singularmente simétrico. Ficou, então, W.

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